“E graças a Deus, que sempre nos faz triunfar em Cristo e, por meio de nós, manifesta em todo lugar o cheiro do seu conhecimento” (2 Co 2.14).
INTRODUÇÃO
Nesta terceira aula, aprenderemos através do ministério apostólico de Paulo, quais são as glórias do ministério cristão e, consequentemente, as características de um mestre autêntico.
I – MINISTÉRIO APOSTÓLICO DE PAULO
O ministério apostólico de Paulo paradoxalmente foi marcado de um lado por lutas e oposições, mas por outro por vitórias e milagres.
Após a defesa do seu ministério e exortações a toda Igreja de Jesus em Corinto, ele discorre sobre as glórias do seu ministério afirmando: “Porque a nossa glória é esta: o testemunho da nossa consciência, de que, com simplicidade e sinceridade de Deus, não com sabedoria carnal, mas na graça de Deus, temos vivido no mundo e maiormente convosco” (1 Co 1.12).
Paulo afirma que tem plena convicção que a simplicidade – ou “franqueza” na Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH), e a sinceridade fazem parte da sua vida como um mestre autêntico que fora.
1.1 Sinceridade e franqueza são glórias de um ministério
Os romanos fabricavam vasos, colunas e esculturas de mármore, e uma cera especial, às vezes, era usada para encobrir as imperfeições e fissuras devolvendo uma aparência de pureza e perfeição.
Ao contemplar essas obras finas e límpidas, dizia o romano vaidoso: como é lindo! Parece até que não tem cera! “Sine cera” em latim quer dizer “sem cera”, uma qualidade de uma obra perfeita, finíssima e delicada.
Hoje, o vocábulo passou a ter um significado muito elevado. Sincero é aquele “que se exprime sem disfarçar pensamentos ou sentimentos, pessoa em quem se pode confiar; verdadeiro e leal”, segundo o dicionarista Antônio Houaiss.
O ministério apostólico de Paulo tinha a glória da sinceridade e franqueza, pois era integro e não procurava encobrir “com cera” as fissuras de seu caráter. A ponto de sinceramente afirmar: “Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço” (Rm 7.19). Semelhantemente, afirmou Martinho Lutero: “Não tenho outro nome, senão o de pecador; pecador é meu nome; pecador, meu sobrenome”.
O falso mestre é leviano e dissimulado. A dissimulação “é o disfarce de verdadeiras intenções e sentimentos”, segundo Houaiss.
1.2 Caráter e reputação
Não há como discorrer sobre sinceridade e franqueza, sem escrever acerca de caráter e reputação, pois estão intimamente ligados.
Integridade ou sinceridade é a essência de um bom caráter, que é mais que boa reputação. Tal como Jesus temos que nos preocupar com a nossa reputação para os de longe e para os próximos (Mt 16.13-16). Reputação é como as pessoas lhe vêem, caráter é como nós nos vemos. Reputação é como as pessoas pensam que você é, caráter é como realmente somos. Quem tem boa reputação se comporta bem quando os outros veem, quem tem caráter se comporta bem quando ninguém vê. Disse D. L. Moody “caráter é quem o homem é no escuro”.
Caráter é o que Deus sabe que você realmente é, enquanto reputação é o que os homens pensam que você é, esta agrada aos homens, aquele agrada a Deus. “O caráter é como uma árvore, e a reputação é como sua sombra. A sombra é o que nos faz lembrar da árvore, a árvore é o objeto real”, afirmou Abraham Lincoln.
Resumindo, todos que têm um bom caráter têm uma boa reputação, mas nem todos que têm uma boa reputação têm um bom caráter. Representando graficamente reputação e caráter, este seria um círculo menor dentro da reputação. O mestre autêntico tem bom caráter e boa reputação, ao passo que o falso mestre pode até ter boa reputação, mas é mau caráter.
1.3 “Sim” e nunca “sim e não”?
Paulo aprofunda-se neste tema justificando o motivo de por três vezes ter enviado mensageiros a Igreja em Corinto afirmado sim ele vai visitar as irmãos, mas não ter cumprido com a sua palavra. Não porque era leviano, dúbio ou um homem sem palavra, mas porque as circunstâncias não eram favoráveis a sua visita a referida igreja. Por isso afirmou: “E, deliberando isso, usei, porventura, de leviandade? Ou o que delibero, o delibero segundo a carne, para que haja em mim sim, sim e não, não?” (1 Co 1.17).
Segundo Elienai Cabral, “ele [Paulo] declara que não se tratava de qualquer tipo de capricho, orgulho, covardia e muito menos conveniência pessoal, mas sim o fato de evitar constrangimento maior em face da linguagem forte da disciplina contra alguém que havia pecado, maculando a santidade da igreja. Como essa pessoa era apoiada pelos opositores de Paulo, ele quis poupar a congregação do exercício desagradável de sua autoridade apostólica, que certamente provocaria ainda mais os humores negativos dos rebeldes no seio da igreja e entristeceria os demais”.
Paulo continua com a bela argumentação e nos versículo seguintes conclui com o seguinte raciocínio: “Porque o Filho de Deus, Jesus Cristo, que entre vós foi pregado por nós, isto é, por mim, e Silvano, e Timóteo, não foi sim e não; mas nele houve sim. Porque todas quantas promessas há de Deus são nele sim; e por ele o Amém, para glória de Deus, por nós” (2 Co 1.19-20).
Podemos afirmar: Deus cumpre o que fala por isso ele é Sim, Jesus também cumpre o que fala, por isso Ele é o Sim ou “Amém para glória de Deus”, os que pregam a Jesus têm que cumprirem o que falam, por isso Paulo era sim e jamais sim e não ao mesmo tempo. Os atuais pregadores cumprem o que prometem? Se não cumprem com as suas palavras estão segundo a “sabedoria da carne”, ou seja, são falsos mestres.
Amados, andemos no Espírito! Pois Paulo já afirmara: “Porque os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito, para as coisas do Espírito” (Rm 8.5), além dele o próprio Mestre Jesus afirmou: “Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; não, não, porque o que passa disso é de procedência maligna”(Mt 5.37).
II – TRÊS CONFIRMAÇÕES DE UM MINISTÉRIO AUTÊNTICO
Após o encontro de Jesus com Paulo a caminho de Damasco ele nunca teve dúvidas que foi o próprio Cristo que o chamou por isso afirmou: “Mas o que nos confirma convosco em Cristo e o que nos ungiu é Deus, o qual também nos selou e deu o penhor do Espírito em nossos corações” (2 Co 1.21-22).
2.1 Unção
Destacamos essas três palavras para afirmar, que a primeira convicção que Paulo tinha foi que o próprio Deus o separou para Si mesmo o unindo a Cristo Jesus.
Unção é o ato de derramar azeite sobre pessoas e objetos com a finalidade de separá-los para um fim específico na casa do Senhor. Tal como o vaso do antigo testamento que era ungido (separado ou consagrado) derramando-se azeite para ser usado na obra do Senhor, Paulo foi um “vaso escolhido” por Deus, através do Espírito Santo, para Jesus (At 9.15). A primeira confirmação é a unção do Espírito Santo.
2.2 Selo
Saiba que quando precisamos dá fé pública a qualquer documento, nos dirigimos ao Cartório de Registro, lá um profissional chamado tabelião, que após analisar uma cópia do documento e conferir com o original ele carimba um documento e cola um selo de autenticidade.
Nesta aplicação, Deus que é o Sumo Tabelião, olha para todo aquele que almeja e sente um chamado, nos analisa e após aprovação ele nos marca com um selo de autenticidade que é o Espírito Santo. A segunda confirmação do ministério apostólico de Paulo é o selo do Espírito Santo.
2.3 Penhor
Finalmente, para garantir a plenitude de um chamado e manifestar um trino Deus, Ele nos deu uma terceira confirmação ministerial que podemos ilustrar da seguinte maneira.
Deus, do alto da Sua soberania, olhando da janela da eternidade para o minúsculo planeta terra procurando homens para uma grande obra. Deus pergunta: “O que você tem para garantir o sucesso dessa parceria?”. O rico empresário responde: “Tenho bens, dinheiro e empresas”. “Isso não serve”, responde Deus. Indaga mais uma vez, dessa feita a um intelectual: “Tenho uma obra, o que você tem para garantir o sucesso dessa parceria?”. “Tenho doutorado em divindade, fluência em três idiomas. “Isso não serve”, responde Deus. Pela terceira vez Deus questiona: “Tenho uma obra, o que você tem para garantir o sucesso dessa parceria?”. Responde a simples viúva: “Não tenho nada, só um pouco de azeite”. “Negócio fechado. Isso garante. O empenho está confirmado. Grande vai ser a obra!”, diz Deus. Pois a terceira confirmação do apostolado paulino é o penhor do Espírito Santo.
Três elementos confirmam o ministério apostólico de Paulo que foi um autêntico mestre: a unção, o selo e o penhor do Espírito Santo.
2.4 Tabela com as principais diferenças entre os mestres (adaptado da 3ª lição da EBD)
FALSOS MESTRES
| MESTRES AUTÊNTICOS
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Procuram obter lucro
| Visam unicamente à glória de Deus
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Oferece um “evangelho” fácil, sem renúncia, sem compromisso, santidade; iludem as pessoas
| Oferecem a cruz de Cristo e um caminho estreito para chegar ao céu
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São emissários do Diabo (Jo 8.44)
| Comissionados e preparados por Deus (Mt 28.19,20)
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Ensinam os que as pessoas querem ouvir independentemente se estão erradas ou não (Jr 5.31).
| Não falam o que gostamos de ouvir,mas o que precisamos ouvir. Corrige-nos sempre quando erramos porque nos ama (Hb 12.6-8).
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Aparência de piedade
| Evidenciam o fruto do Espírito
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É leviano, dissimulado e malicioso
| É sincero, franco e simples
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Mesmo tendo boa reputação são mau caráter
| Têm bom caráter e reputação
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Não cumprem com o que falam (Mt 5.37)
| Cumprem com o que falam (2 Co 1.17)
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Vaso de desonra
| Vasos escolhidos (At 9.15)
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III – ENTENDENDO O TRIUNFO E A FRAGRÂNCIA
Percebamos que no segundo capítulo, versículo dois da segunda epístola de Paulo aos coríntios, ele fala de alegria e tristeza. Alegrou-se no versículo doze do mesmo capítulo por uma porta que o Senhor abriu, mas no versículo seguinte se entristece porque não encontrou a seu amigo Tito, corroborando para o que afirmamos na introdução sobre o paradoxo na vida de Paulo.
Após tudo isso Paulo escreve: “E graças a Deus, que sempre nos faz triunfar em Cristo e, por meio de nós, manifesta em todo lugar o cheiro do seu conhecimento” (2 Co 2.14)”.
A maioria dos estudiosos entende que ao fazer a declaração acima, Paulo faz uma alusão ao chamado triunfo, que era um desfile onde os generais romanos, após a vitoriosa campanha militar, passeavam por toda cidade exibindo os presos condenados à morte, que permaneceram fiéis ao general derrotado, e os salvos da pena de morte, mas condenados à escravidão, pois mudavam de lado e decidiam seguir ao General Vitorioso. Ainda durante esse desfile, o Cortesão ia à frente espargindo perfumes ou incensos.
3.1 Bom cheiro de Cristo
Temos que entender, que o Cortesão que conduz o desfile é Deus e o General Vitorioso (Varão de Guerra) é Jesus, Ele pelejou contra os exércitos do mal, ao qual toda a humanidade fazia parte – inclusive você e eu, e saiu vitorioso. Aleluia!
O mesmo Varão que feriu a Jacó, foi o que nos feriu e fez a seguinte proposta: mudar de lado na batalha ou permanecer fiel ao seu general derrotado. Os que não aceitam a proposta, a fragrância que se espalha por todos os lugares tem cheiro de morte, mas para os que passam, mesmo feridos, para o lado de Cristo, passam a ter a pena de escravos de Cristo e direito à vida. Por isso Paulo afirmou: “Porque para Deus somos o bom cheiro de Cristo, nos que se salvam e nos que se perdem. Para estes, certamente, cheiro de morte para morte; mas, para aqueles, cheiro de vida para vida. E, para essas coisas, quem é idôneo?” (2 Co 2.15-16).
O Cortesão deu seu próprio General, pois se agrada com o cheiro do General ferido, mas vitorioso, para nos salvar da condenação da morte. Durante a crucificação além de ferido, Jesus foi literalmente moído por nossas iniquidades (Is 53.5). Morreu, mas ao terceiro dia ressuscitou!
Um dos hinos mais belos que ouvi é “Above all” de Michael W. Smith, em especial na estrofe que afirma: “Crucified laid behind the Stone. You lived to die rejected and alone. Like a Rose trampled on the ground. You took the fall and thought of me.” Que em livre tradução é “Crucificado, deixado no sepulcro. Vieste morrer, rejeitado e só. Como uma rosa, jogada no chão. Foste por nós, pensaste em mim”.
Jesus no calvário foi esmagado (moído) como uma flor, para que a sua fragrância se impregnasse em nós e espalhássemos o “bom cheiro de Cristo” por todas as partes.
Hoje, a semelhança de Jesus, nós somos essa flor esmagada e quanto maior o sacrifício do nosso ministério, mais o “bom cheiro de Cristo” vai exalar de nós. Paulo afirmou: “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis o vosso corpo em sacrifício vivo[…]”.
O paradoxo do ministério de Paulo reside em todos os ministérios autênticos, pois são nas lutas e sofrimentos, que a boa fragrância de Jesus Cristo emana do nosso ser e os milagres acontecem nos fazendo triunfar. Aleluia!
CONCLUSÃO
A glória do ministério cristão está, verdadeiramente, na simplicidade, sinceridade e franqueza com que se anuncia o Evangelho. Paulo tinha desejo de espargir o “bom cheiro de Cristo” por todas as partes. E de fato o fez através do seu sacrifício e de seus discípulos – mestres autênticos – o Evangelho se expandiu, impactou a Europa, a América, o mundo e chegou até nós.
Felipe Campos